No início do segundo dia do CIS Digital Camp, o desafio colocado aos participantes foi simples: “Um Detox do Mundo Digital”. O objetivo, explicou a responsável da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) que dinamizou a sessão, Madalena Baeta, passou por criar um momento “interativo que leve a falar e refletir sobre as práticas online”.
“Quantas apps tens no telemóvel?”, “Quem é que o Google pensa que és?” ou “Quais as aplicações que mais usas?” foram algumas das questões a que os participantes responderam. As respostas levaram a reflexões sobre privacidade, cibersegurança ou tipos de conteúdos e tendências online.
A sessão teve um foco especial no tema dos dados e privacidade online. “Os dados mais fáceis de aceder são, muitas vezes, os mais simples, como o contacto, o nome ou a morada”, explicou Madalena Baeta, explicando depois que, por essa razão, é sempre importante “pensarmos quem somos na Internet e fora dela”.
O conceito como filter bubble (a filtragem do conteúdo que vemos a partir de um algoritmo baseado nas nossas preferências) ou o clickbait (títulos criados apenas para levar ao clique no link) foram também abordados. Embora possam parecer inofensivas, estas práticas podem estar associadas, respetivamente, a uma distorção da nossa perceção e a práticas de cibercrime.
Madalena Baeta, da APAV, abordou temas ligado ao bem-estar online.
TESTEMUNHO
«Conheci muitas ferramentas que vão ser úteis no futuro»
Catarina Neves,18 anos, Escola Secundária de Anadia
"Escolhi esta academia para aprender um pouco mais sobre o mundo das tecnologias digitais. Penso que isso é importante devido ao facto de estarmos tanto tempo online. Por isso, quanto mais segurmos soubermos estar, mais nos protegemos a nós próprios. Conheci muitas informações e ferramentas que penso que vão ser úteis no futuro. Espero continuar a aprender e aproveitar o tempo com as pessoas que conheci aqui. Vou levar daqui amigos. Apesar de sermos todos de partes diferentes de Portugal, há amizades que se formaram".
“Entender, Agir e Prevenir” o ciberbullying
A sessão seguinte do dia foi da responsabilidade da Direção-Geral da Educação (DGE). O participante do programa Líderes Digitais (ver caixa), João Lopes, de 17 anos, dinamizou uma sessão sobre o tema do ciberbullying, com um foco “em novas diretivas e ferramentas que têm surgido nesta área”. “No final, vão também poder saber como agir”, explicou o orador.
Divididos em grupos de cinco, os participantes do CIS Digital Camp analisaram depois alguns casos reais, avaliando quem são as vítimas, os agressores ou os observadores. “Em grupo, devem pensar como resolveriam esta situação – quem contactariam, que ferramentas utilizariam”, explicou João Lopes. No final, foram partilhadas as principais conclusões sobre os exemplos que focaram canais como Discord, Google Classroom ou redes sociais.
“Concluímos que existem várias razões para o ciberbullying, mas notamos que em todos os casos as plataformas têm um papel essencial, sendo muito importante normalizarmos o pedido de ajuda”, sublinhou João Lopes.
O que é o programa Líderes Digitais?
O programa Líderes Digitais foi criado em 2015, com o objetivo de envolver os alunos na divulgação da “utilização segura e saudável dos ambientes digitais”, contribuindo ainda para o “desenvolvimento da literacia para os Media”, lê-se no site da DGE. Os alunos, na qualidade de líderes digitais, promovem campanhas de sensibilização dirigidas à comunidade educativa em que estão inseridos. Podes saber mais sobre o projeto aqui: https://www.seguranet.pt/lideres-digitais.
Navegar em segurança
A atividade seguinte, “Naveg@s em Segurança” dinamizada pelo Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), teve como objetivo refletir sobre o tempo passado pelos jovens online, abordando o impacto da Inteligência Artificial em temas como a desinformação ou ciberbullying.
Algumas das principais marcas associadas a conteúdos como notícias falsas, imagens geradas por IA ou outros conteúdos de desinformação foram abordados. “É difícil distinguir o que é gerado por IA ou o que é real, atualmente, e isso é bastante alarmante”, destacaram os oradores, antes de concluir: “É difícil criar uma lei, uma medida que resolva isto tudo, mas a solução passa por utilizar [estas soluções tecnológicas] sem ser dependente delas”.
Os riscos online
"Quem tiver acesso ao meu telemóvel pode ver todas as minhas fotos e vídeos, falsificar a minha identidade e até fazer compras facilmente". A frase de Pedro Barata, da Microsoft, serviu para introduzir uma sessão dedicada aos riscos online e às questões ligadas à privacidade. "Isto deve-nos levar a pensar sobre proteção de dados, ou seja, como é que nos conseguimos proteger caso isto aconteça", reforçou.
Uma passowrd forte e única, um desbloqueio seguro do dispositivo, o uso de múltiplos factores de autenticação, manter o software atualizado e identificar endereços legítimos foram alguns dos passos partilhados pelo especialista, que detalhou os passos e regras para cumprir cada uma destas boas-práticas.
"Quando falamos de Internet, uma das primeiras coisas a ter em conta é que nada é 100% seguro", alertou Pedro Barata, salientando que "existe sempre o factor de risco humano" e que "os comportamentos de risco neutralizam qualquer mecanismo de segurança". Exemplos como pishing, social engineering, spoofing, fraude ou desinformação foram alguns dos destacados como explorando esta falha.
Foco no discurso de ódio
Seguiu-se uma sessão dedicada ao tema da Literacia Mediática, com o mote "Repensar o Ódio nos Média". Bruna Afonso, coordenadora da unidade de Literacia Mediática da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), explicou que o objetivo passou por "explorar questões de regulação" que, destacou, "não dizem apenas respeito às entidades reguladoras, mas também aos cidadãos em geral".
A dinâmica da sessão incluiu um momento de partilha de opiniões e perguntas sobre o tema do "discurso de ódio na comunicação social". "Digam-nos o que acham sobre este assunto, de forma anónima, e partilhem também uma questão ou uma opinião sobre a ERC", acrescentou Bruna Afonso. Depois, os participantes refletiram sobre o seu consumo mediático no que diz respeito ao tipo de notícias e os canais utilizados.
Seguiu-se um exercício de classificação de comentários encontrados em sites noticiosos, como ofensivos ou apenas como exercício da liberdade de expressão. Para tal, os participantes foram divididos em equipas de moderação de espaços de comentário. "A liberdade de expressão é um direito que a ERC tem de assegurar", explicou Bruna Afonso "mas não é um direito absoluto". "Pode ceder perante outros direitos, se forem ofensivos ou incitarem ao ódio, por exemplo", reforçou.
"Offline por dentro"
A fechar o dia, a equipa dos Serviços de Apoio Psicológico e Educativo do Politécnico de Lisboa desenvolveu a atividade "O offline por dentro". Esta iniciativa teve como objetivo "sentir, no mundo real, experiências e vivências que tendem a ocorrer no mundo virtual, onde os/as jovens estão muitas vezes imersos/as", explicam os psicólogos do Politécnico de Lisboa.
Recorrendo ao teatro como forma de expressão, e através de cenários fictícios, mas que muitas vezes acontecem atrás dos ecrãs, os/as jovens puderam "mimicar comportamentos online na sua vida offline", acrescentam, com o objetivo de "desenvolver a empatia e a consciência crítica face à utilização das redes sociais, estimulando o bem-estar digital e a presença emocional nas interações online".
Esta equipa do Politécnico de Lisboa é constituída graças ao financiamento da Direção-Geral do Ensino Superior (DGES), no âmbito do Programa de Promoção da Saúde Mental no Ensino Superior.
O CIS DIgital Camp continua amanhã. Para a manhã, está marcada uma sessão sobre o impacto do voluntariado nos jovens.